terça-feira, 4 de novembro de 2014

Estimulação visual

A ESTIMULAÇÃO VISUAL

visão é o motor que impulsa o desenvolvimento psicomotriz nos primeiros anos de vida da criança.É o sentido pelo qual se consegue perceber o mundo exterior que se relacionam com ele. Tudo o que se enxerga é fruto da tradução, feita pelo cérebro, dos estímulos luminosos que atingem os nossos olhos.

A visão é a que mantem a  hierarquia dos sentidos e ocupa uma posição imprtante  no 
tange   à percepção e integração de formas, contornos, tamanhos, cores e imagens que estruturam a composição de uma paisagem ou de qualquer ambiente
.
Quando uma criança devido, a alguma alteração,  não atinge o desenvolvimento da eficiência visual de forma natural e espontânea, se faz necessária uma intervenção com estimulação visual. 

A estimulação visual consiste em utilizar a visão residual que a criança possui, proporcionando exercícios específicos que se baseiam no funcionamento visual com o objetivo de alcançar o mais alto desempenho possível desse resíduo visual. (AMCIP- Associação Mantenedora do Centro Integrado de Prevenção, [s.d.])

Uma criança com visão normal desenvolverá a capacidade de ver, de uma forma espontânea; sem embargo uma criança com baixa visão, na maioria dos casos, não o fará de forma automática, por isto se deve estimular visualmente por meio de um programa sistemático encaminhado a desenvolver suas funções visuais.

Para Fonseca; Lima (2004) a capacidade de ver e interpretar imagens depende principalmente da função cerebral. Assim como ocorre a maturação do sistema nervoso, o sistema visual também passa por transformações, evoluindo durante as primeiras semanas de vida, quando a retina, as vias ópticas e o córtex visual desenvolvem os contatos celulares, ocorrendo, portanto o processo seletivo durante o período crítico. A função, portanto, é necessária para o desenvolvimento típico do córtex visual e vias ópticas. Segundo Tartarella (apud NAKAHARA, 1997), todos os bebês nascem com uma visão baixa.

 A maturação do sistema visual se inicia após o nascimento e só se completa por volta dos oito anos de idade. Mas há uma época de maior plasticidade do sistema visual, o chamado "Período Crítico". Período crítico, idade plástica ou período sensitivo é o período da vida durante o qual as funções visuais podem ser modificadas por experiências visuais anômalas, é o período de maior plasticidade do Sistema Nervoso Central. (TARTARELLA apud NAKAHARA et al., 1997) 

Para Martín e Bueno (2003) o desenvolvimento do sistema visual em criança com baixa visão raramente se produz de forma automática e espontânea.

 O especialista em baixa visão, a família, bem como a própria criança devem auxiliar muito. Requer paciência, compreensão e boa comunicação. Sem embargo, o esforço realmente vale a pena, sempre lembrando que o limite é o infinito. A oportunidade e a possibilidade em usar as novas habilidades adquiridas dentro do contexto casa, escola e comunidade, representam um impacto direto na evolução da criança.

Devemos lhes dar a oportunidade de conhecer experiências totais, isto é, não só o verbal e tátil, mas também orientação espaço-tempo, e relações com respeito a sua autopercepção, a outros seres e outros objetos.

A estimulação visual está estreitamente relacionada com o desenvolvimento visual, pois consegue que uma criança consiga se interessar por seu entorno, queira explorá-lo e saber o que é.




Foto tirada no dia 03/11/2014 em Governador Valadares no 3º módulo de deficiência visual. Curso ministrado pelo MEC. Professora Jaqueline Pereira Peixoto.


segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Curso sobre deficiência visual - 2º e 3º módulo sobre deficiência visual - 04/11/14


                                              A Visão




“O Olho é uma espécie de globo, é um pequeno planeta com pinturas do lado de fora. Muitas pinturas: azuis, verdes, amarelas. É um globo brilhante: parece cristal, é como um aquário com plantas finamente desenhadas: algas, sargaços, miniaturas marinhas, areias, rochas, naufrágios e peixes de ouro. Mas por dentro há outras pinturas, que não se veem: umas são imagens do mundo, outras são inventadas. O Olho é um teatro por dentro. E às vezes, sejam atores, sejam cenas, e às vezes, sejam imagens, sejam ausências, formam, no Olho, lágrimas.”

Cecília Meireles


AVALIAÇÃO DO FUNCIONAMENTO VISUAL

          Aula ministrada  pela professora Jaqueline Pereira Peixoto    


O funcional visual é um comportamento aprendido: " quanto mais experiências visuais uma criança tiver , mais condutos cerebrais serão estimulados, o que dará lugar a uma maior acumulação de imagens visuais variadas e de recordações"(BARRAGA, 1986).

A avaliação é o passo intermediário de especial transcedência entre a detecção e a intervenção.  É relevante realizar uma avaliação transdisciplinar em que envolve a família, a escola, o oftalmologista e o ortoptista também.Sem uma avaliação exaustiva, é impossível um tratamento com sucesso.

LISTA DE OBSERVAÇÕES DO PROFESSOR: o ABC da dificuldade visual (José, 1988)



Aparência dos olhos do aluno:
1. Vesguear (para dentro ou para fora) a qualquer momento, especialmente quando está cansado.
2. Olhos ou pálpebras avermelhados.
3. Olhos aquosos.
4. Pálpebras afundadas.
5. Terçol freqüente.
6. Pupilas nubladas ou muito abertas.
7. Olhos em constante movimento.
8. Pálpebras caídas.

Sinais de possíveis dificuldades visuais, no comportamento:
1. Corpo rígido ao ler ou olhar para um objeto distante.
2. Inclinar a cabeça para a frente ou para trás ao olhar para objetos distantes.
3. Omissão de tarefas de perto.
4. Períodos curtos de atenção.
5. Giro de cabeça para utilizar um só olho.
6. Inclinação lateral da cabeça.
7. Colocação da cabeça muito próxima ao livro ou à carteira ao ler ou escrever; manter o material muito perto ou muito longe.
8. Franzir a sobrancelha ao ler ou escrever.
9. Piscar em excesso.
10. Tendência a esfregar os olhos.
11. Tapar ou fechar os olhos.
12. Falta de gosto pela leitura ou falta de atenção.
13. Fadiga incomum ao terminar uma tarefa visual ou deterioração da leitura após períodos prolongados.
14. Perda da linha.
15. Uso do dedo ou lápis como guia.
16. Leitura em voz alta, ou movendo os lábios.
17. Mexer a cabeça, no lugar dos olhos.
18. Dificuldades gerais de leitura: tendência a inverter letras e palavras, ou a confundir letras e números com formas parecidas (p. ex.: a e c, f e t, e e c, m e n, n e r) omissão freqüente de palavras ou tentativa de adivinhá-las a partir do reconhecimento rápido de uma parte.
19. Esbarrar em objetos.
20. Espaços escassos ao escrever, ou incapacidade para seguir a linha, inversão de letras ou palavras ao escrever e copiar.
21. Preferência pela leitura, em contraposição ao jogo ou às atividades motoras ou vice-versa.

Queixas associadas ao uso dos olhos:
1. Dores de cabeça.  2. Náuseas ou vertigens.
3. Ardor ou coceira nos olhos.  4. Visão turva a qualquer momento.
5. Confusão de palavras ou linhas. 6. Dores oculares.

Fonte: RUIZ, Maria Cristina Pérez; MOLINA, Diego Rando; BUENO, Maria Concepción Toro; & LARA, Rafael Torres. Diagnóstico e Avaliação do Funcionamento Visual. Deficiência Visual: Aspectos Psicoevolutivos e Educativos / MARTIN, Manuel Bueno & BUENO, Salvador Toro, 2003. Editora Aljibe, S.L. Livraria Santos Editora Ltda




No escuro é muito difícil e, às vezes, é mesmo impossível ver alguma coisa. É a luz que estimula o tecido nervoso dos nossos olhos e permite distinguir a forma, o tamanho, a cor, o movimento, a distância das coisas, etc. 
Os nossos olhos são quase esféricos e estão alojados nas cavidades orbitais da face. As paredes do globo ocular são constituídas por três membranas: a esclerótica, a coróide, e a retina.
*  membrana mais externa do olho, é branca, fibrosa e resistente;
*  mantém a forma do globo ocular e protege-o;
*  na região anterior e central do olho, a esclerótica, é fina e transparente e constitui a córnea.
Coróide:
*  reveste internamente a esclerótica, é escura e rica em vasos sanguíneos;
*  na região anterior do olho, ela tem um orifício circular, a pupila;
*  a faixa circular da coróide que rodeia a pupila é denominada de íris e pode ter uma cor azul, castanha, cinza ou verde;
*  por meio de dois músculos lisos, a íris regula o diâmetro da pupila;
*  quando a claridade do ambiente é pouco intensa, a pupila dilata-se para deixar entrar no olho o máximo de luz possível;
*  quando a claridade é demasiado intensa, a pupila contrai-se para impedir que o excesso de luz prejudique a visão.
Retina:
*  é a membrana mais interna do globo ocular, nela encontram-se células nervosas especializadas em captar os estímulos luminosos;
*  no fundo do olho está o ponto cego, insensível à luz, porque é o lugar por onde passa o nervo óptico;
*  esse nervo conduz os impulsos nervosos para o centro da visão, no cérebro;
*   na retina encontra-se, também, a mancha amarela e é nesta mancha amarela que se forma a imagem, no caso de uma visão normal. 

Antunes Maria do Céu * Rocha K. Dui

A CEGUEIRA E SUA COMPLICAÇÕES QUANDO NÃO HÁ ESTIMULAÇÃO NA IDADE CORRETA.
BREVE RELATO



ESTIMULAÇÃO SENSORIAL

A cegueira é um tipo de deficiência sensorial e sua principal característica é a ineficiência da aquisição da informação, neste caso o visual.
Caracteriza-se pela perda parcial ou total da visão que após melhor correção óptica ou cirúrgica limitem seu desempenho normal, acarretando a deficiência visual.
A percepção visual é a capacidade de interpretar a imagem que se recebe através do sistema visual. O cerébro deve exercitar sua capacidade de interpretação e associação, recorrendo à memória de outras imágens igualmente percebidas para dar nome, funcionalidade, sentido e direção ao recebido por ambos olhos.

 Segundo a definição médica da Organização Mundial da Saúde, tem cegueira a pessoa que apresenta acuidade visual inferior a 0.05 (referência tabela Snellen), em ambos os olhos, após a melhor correção óptica possível. Campo visual inferior a 20 graus. São consideradas pessoas com baixa visão ou visão subnormal, quando a acuidade visual está entre 0.05 a 0.3 em ambos os olhos, com a melhor correção óptica possível.

A baixa visão é uma condição em que há um comprometimento do funcionamento visual mesmo após a correção dos erros refracionais comum. A pobreza de atividades motoras impostas pela deficiência visual pode promover atrasos na aquisição de habilidades sensório-motora.
Diante do exposto, todos temos dificuldade em processar determinados estímulos sensoriais (um certo toque, olfato, paladar, som, movimento, etc) e todos temos preferências sensoriais.



Estimular é a palavra chave para o desenvolvimento da criança rumo à aprendizagem; proporcionando e oferecendo condições e meios para a criança se tornar pensante e capaz de adquirir sua identidade.
   Quando falamos em estimulação não estamos falando especialmente de uma área, mas sim do desenvolvimento 
global da criança;
 Essa estimulação deve ser desenvolvida no tempo certo e correspondente a idade da criançaElaine Eleutério/ 03/11/2014


sábado, 20 de setembro de 2014

2º Módulo _ Curso sobre deficiência Visual - baixa visão, orientação e mobilidade.

"A grande ciência da vida é aprender a recomeçar. Recomeçar com confiança e entusiasmo." (Lições de Dorina Gouveia Nowill - Para quem quer ver além)"
 A Orientação e Mobilidade é uma área muito ampla e fundamental no atendimento do deficiente visual. De  acordo com Carrol (1968), a perda da mobilidade decorrente da perdavisão apresenta importância fundamental, porque significa mais do que andar, significa a liberdade de ir e vir de um lugar para outro, mediante todos os meios possíveis, seja no pequeno espaço de uma sala ou de uma casa, seja em áreas geográficas próximas ou distantes. É composta por técnicas específicas de proteção e exploração, no intuito de que o indivíduo se locomova com segurança e independência.2 A Orientação e Mobilidade (OM) é de importância vital para o deficiente visual, devido aos benefícios psicológicos, físicos e sociais e, principalmente, por dar a pessoa o direito de ir e vir como cidadão comum, fatores estes que colaboram muito com a melhoria da auto confiança, auto estima e melhor qualidade de vida.


A VARREDURA

Já imaginou atravessar uma rua de olhos fechados? Você corre o risco de tropeçar, cair, de ser atropelado por um carro, uma bicicleta, uma moto, cair num buraco ou de machucar de alguma outra forma. Talvez alguém apareça para ajudá-lo na travessia ou, simplesmente, você desista de chegar ao outro lado.Pois bem essa foi semana eu e minhas colegas de curso vivenciamos situações similares da vida de um deficiente visual nas ruas de  Governador Valadares - MG. 

Foto1: Aprendendo a fazer varredura com a bengala.

Assim sendo,  a locomoção é uma atitude nata do individuo, isto é, se não apresentar distúrbios psicomotores e não for estimulado precocemente e da forma correta. Para o deficiente visual ter uma mobilidade segura é importante e necessária uma boa orientação, que é decorrente de alguns fatores, tais como: ponto de referência, pistas, sistema de numeração externa e interna, medição, pontos cardeais, auto familiarização com o ambiente, segundo afirma CARROLL, Thomas J. Cegueira. São Paulo, dezembro de 1968.

A bengala é um sistema de orientação e mobilidade no qual a pessoa com deficiência visual depende apenas de si mesmo para se deslocar pelo ambiente. A bengala é um simples bastão que, mesmo com todo o avanço tecnológico, ainda se traduz como o mais eficiente instrumento para dar independência à mobilidade de pessoas com deficiência visual ou com baixa visão. A bengala funciona como uma extensão tátil-cinestésica para transmitir à pessoa uma riqueza de informações tal e qual ela teria se caminhasse passando a mão no solo. É possível desenvolver a percepção para detectar desníveis, buracos e outros obstáculos ao nível do chão. A bengala também será um anteparo eficiente para possíveis choques contra objetos e pessoas que se encontrem na linha de caminhada da pessoa com deficiência visual, pois auxilia no equilíbrioda pessoa. A bengala longa pode ser usada em conjunto com outras formas de mobilidade, ou seja, com uma pessoa guia, com um cão-guia e com as ajudas eletrônicas (Felippe e Silveira, 2001).

Foto 2- Após a  travessia do piso tátil em frente de uma agência bancária.Ufa... difícil mas conseguimos. 

Foto 3 - Descendo a escada rolante acompanhada com uma guia.

Foto  4- após uma travessia de pedestre.

Foto 5 -  Preparando para a aventura. O mundo dos cegos nas ruas! Aula prática com a professora Jaqueline Pereira Peixoto. A 2º foto  à esquerda da tela abaixo do banco da praça.

DESENVOLVIMENTO DE UMA BENGALA ELETRÔNICA PARA LOCOMOÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL- Autores:
 Danilo Ribeiro de Gouveia Santos, danilo.ribilo@gmail.com1
Werley Rocherter Borges Ferreira, werley_meca@hotmail.com1
Marco Aurélio Borges, m.aurelioborges@gmail.com1
Rogério Sales Gonçalves, rsgoncalves@mecanica.ufu.br1
Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Uberlândia, Campus Santa Mônica, CEP 38400-902, Uberlândia – MG – Brasil.

Caminhar sem Medo e sem Mito: Orientação e Mobilidade.

20/11/2003 - Sonia B. Hoffmann e Ricardo Seewald.

Conversando sobre Orientação e Mobilidade.

As pessoas normalmente atribuem a pessoa com deficiência visual uma dependência constante da sua ajuda e vigilância, com poucas habilidades principalmente para o seu deslocamento no ambiente de forma autônoma e segura. Este pensamento acontece muitas vezes não somente com crianças e, tampouco, é provindo apenas daqueles que enxergam, porque diversas pessoas com cegueira ou visão subnormal consideram-se, na grande maioria dos casos, inaptos ou incapazes para esta atividade.
Os motivos para esta concepção parecem estar diretamente vinculados ao desconhecimento, à dúvida e ao medo culturalmente construídos no que diz respeito às potencialidades e habilidades de alguém com perda ou diminuição da sua visão. Esta atitude pode ser observada desde o momento em que são rotuladas como cegas aquelas pessoas que apresentam visão subnormal, com uma demonstração clara de que para muitos todos aqueles que possuem alteração visual são impreterivelmente cegos. Além disto, o comportamento protetor ou descrédito procedente dos pais, familiares e comunidade pode gerar uma extensa e profunda problemática para a construção e desenvolvimento do indivíduo com deficiência visual, especialmente em sua fase infantil.
A rede de entraves prolifera-se de forma cumulativa e cíclica, produzindo lentamente danos no corpo e na personalidade do indivíduo e prejuízos nas relações interpessoais, nem sempre reversíveis. Esta realidade, no entanto, pode ser minimizada ou evitada se uma ação interventiva eficiente e adequada acontecer dentro de um tempo suficiente por parte da família, profissionais, comunidade e o própria pessoa com o comprometimento visual.
Assim, a criança cega ou com visão reduzida poderá lidar muito mais com as dificuldades próprias e peculiares da infância do que com uma sobrecarga de problemas e tabus adicionada pelos receios, incertezas e preconceitos do adulto. O mesmo certamente acontece com o adolescente e com o adulto, pois as dificuldades características destas fases serão enfrentadas e resolvidas sem o estresse da preponderância da sua condição de deficiente visual. Isto é: Mariana antes de ser cega, é uma criança; Marcelo, um jovem acima da sua deficiência visual e Pedro, um adulto apesar da sua visão reduzida.
movimento representa uma importante ação interventiva para a concretização destas possibilidades e torna-se um elo significativo entre a organização, conhecimento e valorização da pessoa com deficiência visual e das demais pessoas que com ele convivem. Este processo, se adequadamente conduzido e entendido, irá provavelmente ocorrer de forma recíproca porque a pessoa em movimentoage e interage com seu ambiente, explora e descobre o mundo, estabelece comunicações e intercâmbios, elabora conceitos e atitudes e constrói o conhecimento.
Desta forma, os benefícios que o movimento desencadeia no indivíduo com algum comprometimento visual vão para além daqueles de origem fisiológica, estética ou motora: raciocínio, afetividade, emoções, postura social e ética são igualmente conhecidos e assimilados com e no movimento, em suas diversas formas. O caminhar é, para aqueles que não apresentam uma deficiência motora impeditiva, um movimento natural no ser humano. Contudo, este movimento espontâneo nem sempre está presente de modo natural e simples porque, muitas vezes, o portador de deficiência visual pode encontrar-se desorientado e sem referências para a realização do mesmo ou, então, não ter o conhecimento desta possibilidade corporal e o desenvolvimento desta habilidade.
Sua orientação no espaço, seja em relação ao ambiente, objetos e pessoas que nele estejam presentes, assim como dos possíveis trajetos, é algo marcante. A criança, o adolescente ou o adulto com deficiência visual têm plena capacidade para desenvolver habilidades motoras e mentais desde que a ele sejam oferecidas informações e oportunidades para aprendizagens e vivências, ou seja, desde que a ele seja possibilitada uma vida sem preconceitos, tabus ou fantasias, gerado muito mais na imaginação dos outros do que nas suas reais dificuldades.
Um dos mais importantes tabus, até aqui mantidos pelas pessoas que enxergam, é o de que uma criança cega ou com visão subnormal deve permanecer protetoramente limitada a um espaço físico seguro, livre de qualquer possibilidade de arranhões, quedas, tropeços, batidas ou qualquer outro risco, como se este não fosse o dia-a-dia de uma criança com ou sem comprometimento que brinca, explora o ambiente, se conhece e reconhece nas atividades. Todos os pais e profissionais ficam muito preocupados em dar à criança condições para engatinhar, dar os primeiros passos e se movimentar em seu quarto. Mas, quando chega o momento em que esta criança quer conhecer por si mesma, como as outras crianças, outros ambientes e outras atividades, surge o medo, a proteção e pronto: a criança com deficiência visual aprende a ter medo do mundo porque os adultos lhe ensinam este medo e, sem perceber, as prejudicam porque incutem nelas o receio, a passividade e a falta de iniciativa, que certamente vão lhe dificultar seu pleno desenvolvimento, felicidade e realização.
Quando chega este estágio, muitos pais e profissionais ficam pensativos, consideram que deveriam ter assumido outra postura e comportamento com estas crianças desde a infância, porém, do dia para a noite ninguém modifica situações que deveriam ter sido resolvidas em outra época, em outro momento e que, no presente, somente atrasos e prejuízos sinalizam esta omissão. As comparações certamente começam a acontecer porque os reflexos da superproteção ou da indiferença as distanciam muito mais das outras crianças, uma vez que estas deixam suas casas para ingressar na escola, na comunidade, na igreja, no clube e em tantos outros ambientes sociais e não são isoladas. Esta comparação não acontece somente a partir dos pais e dos profissionais: pior, as próprias crianças, adolescentes e adultos se comparam e percebem que algo limitativo existe, um algo que elas não entendem e que talvez lhes pareça intransponível porque nelas foi paulatinamente instalado a restrição, o receio de ousar algo, modelando suas atitudes, movimentos e idéias.
Pais e profissionais parecem subitamente dar-se conta que um dia poderão afastar-se temporária ou permanentemente destes indivíduos, que necessariamente precisam dar continuidade a sua existência de alguma forma. Então, passam a dotar comportamentos e desejam que magicamente os atrasos e os prejuízos acumulados durante a infância e a adolescência sejam transformados em habilidades e capacidades. Surge então repentinamente a reglete e o punção, a bengala e todos os afazeres da vida diária, como que se até este dia nada disto existisse e como que se a realização de atividades não tivessem sua construção ao longo do tempo! A escrita e leitura braille, a organização espacial e o deslocamento do indivíduo no ambiente requerem o desenvolvimento de habilidades específicas e, de modo algum, estão sujeitas somente à idade ou ao momento da vontade dos pais e dos profissionais, porque a confiança no seu corpo e no potencial que possui são gradativamente conquistados pela criança, pelo adolescente e pelo adulto.
É comum o processo de Orientação e Mobilidade ser confundido com a aprendizagem apenas do uso da bengala, quando tal processo envolve tantas outras estratégias e recursos. Mas então o que é Orientação e Mobilidade? Orientação e Mobilidade (OM) é uma atividade motora e pode ser definida como um processo amplo e flexível, composto por um conjunto de capacidades motoras, cognitivas, afetivas e sociais e por um elenco de técnicas apropriadas e específicas, que permitem ao seu usuário conhecer, relacionar-se e deslocar-se de forma (in)dependente e natural nas mais diversas estruturas, espaços e situações do ambiente.
As estratégias e recursos mais utilizados na Orientação e Mobilidade são o guia-humano, a auto-proteção, a bengala e o cão-guia.

Método Dependente de Locomoção ou Locomoção com 

Guia-humano.

método dependente de locomoção ou locomoção com o guia-humano é empregado quando a pessoa com deficiência visual:
  1. está, momentanea ou permanentemente, impossibilitada física, psicológica ou socialmente de utilizar a bengala;
  2. está na fase inicial da aprendizagem das técnicas de OM e da locomoção independente;
  3. encontra-se em situações nas quais somente o uso da bengala não é recomendado ou, então, em condições eventuais como, por exemplo, travessia de uma rua movimentada, estrago ou extravio da bengala, acomodação em cinema ou teatro.
Este método oferece à pessoa com cegueira ou visão subnormal, quando o guia é hábil e conhecedor das estratégias, a condição imediata de locomoção segura e eficiente no espaço e favorece, a ela, a captação de informações sobre este ambiente. No entanto, é importante que o guia-humano considere-se e seja considerado apenas como uma extensão dos sentidos tátil e cinestésico do indivíduo comprometido visualmente, com exceção da sua atuação na fase infantil porque ele tem também a função de apresentar e nomear o mundo e seus objetos para a criança. Em nossa opinião, guia-humano e indivíduo cego devem adotar um comportamento que não venha subestimar, supervalorizar ou sobrecarregar com funções e responsabilidades a qualquer um deles e, também, que as pessoas que se disponham a servir como guias realizem um treinamento em OM, pois existem técnicas específicas para diferentes comportamentos e situações.
As técnicas de proteção permitem ao indivíduo cego o deslocamento autônomo dentro de um espaço conhecido, não assegurando a detecção de mudanças de níveis no ambiente. Com a utilização da própria mão e antebraço, o indivíduo aprende a realizar a proteção do seu rosto, porção superior e porção inferior do seu tronco em relação a possíveis obstáculos, acidentes e perigos. Neste treinamento, são incluídas técnicas para a própria proteção do indivíduo e, inclusive, para a proteção de outras pessoas, especialmente em relação a outras pessoas com deficiência visual, como, por exemplo, utilizar, sempre que possível, o trajeto pelo seu lado direito.

Locomoção Independente e a Bengala.

A bengala longa, símbolo universal da deficiência visual, identifica seu usuário como portador de cegueira ou visão subnormal , podendo ser considerada um auxílio e sinalizador efetivo e eficiente delocomoção independente. Combinada com as técnicas específicas de mobilidade e as do seu funcionamento, a bengala representa para uma pessoa com deficiência visual, entre outros benefícios, a extensão dos seus sentidos tátil e cinestésico, segurança, proteção e meio informativo sobre a natureza e condições do solo e de alguns obstáculos do ambiente. Autores referem também que o uso da bengala estimula o intelecto de uma pessoa portadora de deficiência visual, pois lhe obriga a raciocinar sobre a forma de resolução dos problemas que possam ocorrer durante seus deslocamentos.
A bengala não tem uma função ortopédica ou de sustentação, mas de proteção, orientação e detecção das informações ambientais captadas por sensações táteis e percebidas pelos receptores localizados na mão do indivíduo cego, sendo enviadas ao seu cérebro. Portanto, a bengala longa (ou de Hoover, seu criador) ou a articulada têm a função de aumentar o alcance da perna e do braço de um indivíduo cego. Seu material é geralmente formado por uma liga de alumínio e o seu comprimento compreende a distância, na linha vertical, entre o solo e a base do osso do peito chamado esterno*. É importante que esta medida seja adotada sempre que uma nova bengala seja adquirida, pois se não for respeitada a altura deste instrumento em proporção a altura do portador de deficiência visual, graves comprometimentos nos músculos e articulações podem acontecer.
O treinamento no uso das técnicas específicas da bengala pressupõe o treinamento na utilização de todos os sentidos remanescentes e deve ser ensinado por um instrutor ou professor especializado em suas técnicas, pois, de acordo com Carroll (1968), seu uso se tornará mais nocivo do que a falta da mesma, se não houver uma orientação correta. Além disto, acreditamos que um profissional habilitado terá melhores condições de realizar uma avaliação e, nela, detectar alterações que talvez não estejam diretamente relacionadas à mobilidade do indivíduo mas que, de alguma forma, prejudiquem esta atividade.
A introdução da bengala na vida de uma criança, adolescente ou adulto pode acontecer de maneira formal ou informal, dentro de brincadeiras ou atividades pedagógicas específicas, uma vez que nem sempre estes indivíduos estão motora e emocionalmente preparados para o seu uso. Muitas vezes, uma criança precisa de um instrumento que ainda não deve possuir as características da bengala utilizada pelo adolescente ou pelo adulto, pois necessita de uma base de sustentação maior: tal como quando as crianças caminham com os seus pés mais afastados para terem maior equilíbrio. Em outras situações, o fato da pessoa se deparar com buracos, árvores e outros obstáculos, pode fazer com que ela desista de utilizar a bengala, se ela não estiver bem estimulada, estruturada emocionalmente e com domínio das técnicas da OM, porque a frustração e o constrangimento gerados pelas colisões, intromissões e situações imprevistas parecem ser elementos que deixam uma pessoa confusa, insegura e desmotivada.

Locomoção com Cães-guia.

O cão guia representa outro recurso de OM, mas exige do seu usuário idade própria, conhecimentos prévios de OM e condições para a realização dos cuidados e manutenção da sobrevivência, saúde e higiene do cão. O uso deste recurso não é recomendado para crianças, pois a tendência para brincadeiras com este animal é intensa nesta fase e a criança tem dificuldade para entender que o cão está ao seu lado para desenvolver um trabalho de orientação e facilitação da sua mobilidade e não para brincar.

Conclusão.

As principais funções dos recursos e instrumentos de mobilidade, como prolongamentos da sensibilidade de uma pessoa com deficiência visual, são de proporcionar a ela um deslocamento sem colisões ou quedas e, no caso específico da bengala, de percepção e antecipação daquilo que se encontra em seu trajeto. A participação da família neste processo é de grande importância, pois no ambiente familiar a criança, o adolescente e o adulto vivenciam as experiências próprias da sua realidade com maior naturalidade e destreza. Especificamente em relação à bengala, acreditamos que ela deva fazer parte dos brinquedos de uma criança para que, no dia-a-dia, ela tome contato com este instrumento, se familiarize com ele e o inclua em seu esquema corporal.
A aprendizagem e uso da Orientação e Mobilidade pode trazer ao indivíduo muitos benefícios para sua qualidade e estilo de vida, desde sua fase infantil e até a adulta, como independência, segurança, auto-confiança, integração, contato social, privacidade, oportunidade de trabalho, conhecimento real dos objetos, ambientes físicos e eventos sociais, condicionamento físico etc.
Por tudo que foi explanado até agora, podemos facilmente compreender que existe uma nova forma de compreender a cegueira ou a visão subnormal de qualquer indivíduo e que um conjunto de alternativas está à disposição destas pessoas, das suas famílias e dos profissionais para que a facilitação da orientação e dos deslocamentos do indivíduo com deficiência visual aconteça. O importante, antes da escolha destas possibilidades, é não negar o comprometimento visual da criança, do jovem ou do adulto, seja ele você mesmo, teu filho ou teu cônjuge. A aceitação do indivíduo como ele se apresenta é importante para que, juntos, decisões para a continuidade da sua vivência como cidadão e participante da sociedade possam ser tomadas.
O fato de alguém apontar o caminho, mostrar as possibilidades e acompanhar o início de uma nova etapa de vida não significa superproteção, porém, o excesso de cuidados, de exigências ou de limitações pode sufocar o desenvolvimento e o bem-estar de qualquer indivíduo.

Bibliografia:

  • CARROLL, Thomas J. Cegueira: o que ela é, o que ela faz e como conviver com ela. São Paulo [s.n.] 1968. 351p.
  • HOFFMANN, Sonia B. Orientação e mobilidade: um processo de alteração positiva no desenvolvimento integral da criança cega congênita - estudo intercultural entre Brasil e Portugal. Porto Alegre, 1998. XIV, 182f. il. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola de Educação Física. Mestrado em Ciências do Movimento Humano, 1998.
  • HOFFMANN, Sonia B. Benefícios da Orientação e Mobilidade: estudo intercultural entre Brasil e Portugal. Benjamin Constant, Rio de Janeiro, ano 5, n.14, p.11-16, dez. 1999



"E guardemos a certeza pelas próprias dificuldades já superadas que não há mal que dure para sempre." (Chico Xavier)


Elaine de Almeida Eleutério/ Set. 2014

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Soroban: calculadora para pessoas com deficiência visual.


Este vídeo ensina alguns passos para aprender a somar e subtrair utilizando o Soroban! São dados exemplos e algumas regras de como realizar os cálculos.
                                                        
Breve histórico sobre o Soroban 

        O SOROBAN

O ábaco japonês utilizado pelos orientais é conhecido pelo nome de Soroban.
O Soroban é um instrumento utilizado para cálculos matemáticos e, apesar de ter sua origem ligada aosjaponeses, foi criado na China e levado ao Japão no século XVII.


Cada coluna possui 5 pedras chamadas contas. A primeira conta de cada coluna, localizada na parte superior, representa o número 5 enquanto as 4 contas inferiores representam 1 unidade cada.
Da direita para a esquerda, cada coluna representa uma potência de 10. Iniciando em unidade, dezena, centena, milhar, etc.
Técnicas aperfeiçoadas permitem que oSoroban seja utilizado para cálculoscomplexos de adição, subtração,multiplicação, divisão e raiz quadrada.
O uso do Soroban permite que as pessoas desenvolvam habilidades mentais relacionadas ao raciocínio matemático e à concentração como:
·         Memorização de informações, principalmente números
·         Visualização e criatividade
·         Observação
·         Pensamento rápido
·         Cálculo mental


Aula prática do curso de DV/2014

O soroban é um instrumento retangular, com uma régua de numeração que divide o aparelho em dois outros retângulos, um na parte inferior e outro na superior. Na régua de numeração existem pontos salientes que separam as ordens das unidades, dezenas e centenas de cada classe.

Contem também hastes ou eixos a qual se movimentam as contas. Em cada haste da parte superior do instrumento contêm uma conta e, na parte inferior, quatro contas. Internamente possui uma borracha compressora que impede que as mesmas deslizem facilmente

É um ábaco, assim como você provavelmente conheceu ainda criança, nos primórdios da sua educação, para aprender a contar. Mas é um ábaco japonês, diferente, com apenas cinco contas, ou pedrinhas (como preferir chamar agora) em cada ordem numérica.



Foto do 2º módulo do curso sobre deficiência visual - GV/MG

O seu uso sofreu uma série de aperfeiçoamentos que geraram técnicas extremamente rápidas para executar qualquer cálculo: adição, subtração, multiplicação, divisão, raiz quadrada e outros.
A parte mais interessante e intrigante com certeza é o uso da mesma técnica para fazer cálculos mentais. Treinando as operações no Soroban, vai-se aos poucos adquirindo as mesmas habilidades para fazer cálculos mentalmente de algarismos enormes, para os padrões ensinados nas escolas.


                       Foto: Depois do cálculo no soroban transfere a operação para o braille(2º módulo)
O SOROBAN NO BRASIL
 soroban chegou ao Brasil  no início do uso do soroban por pessoas cegas ou com baixa visão (visão sub-normal), nos anos 40 e 50, veio melhorar o trabalho matemático antes feito no cubaritmo realizado por essas pessoas, consistindo em uma grade onde são colocados cubos com os números em braille. As contas são montadas como em tinta, como usualmente utilizada por pessoas sem deficiênc
O principal divulgador do soroban no Brasil foi o professor Fukutaro Kato, natural de Tókio, Japão e conhecedor das diversas áreas das ciências econômicas e contábeis a partir do ano de 1956.

Joaquim Lima de Moraes, após perder a visão em conseqüência de uma miopia progressiva, foi o primeiro brasileiro a se preocupar com o modo de calcular que os cegos dispunham. Foi então que Moraes conheceu o soroban, um instrumento de custo acessível e que trouxe facilidade e mais rapidez para a realização de cálculos por pessoas cegas.
Em seus primeiros contatos com o aparelho, Moraes percebeu que as contas nos eixos deslizavam com muita facilidade e que seria difícil para uma pessoa cega manipulá-lo com o toque dos dedos.

Em seus estudos com seu aluno e amigo José Valesin, adaptou o soroban introduzindo uma borracha compressora e pontos salientes ao longo da régua, a qual resolveu a dificuldade dos cegos em manipular esse aparelho.


Elaine Eleutério/set. 2014 ( Texto informativo retirado de várias fontes)

Para saber mais sobre o soroban e sua aplicação indicamos a leitura do caderno "Pré-soroban" disponibilizado pelo MEC